terça-feira, 12 de junho de 2007

QUASE DOIS IRMÃOS


Classificação:

“E a vida nos mostrou outros caminhos... e a dor”.

Boêmia, ditadura, rebeldia, separação de classes, ideologias diferentes... Aparentemente não há como juntar tudo isso em um só filme. Mas Quase Dois Irmãos nos dá uma amostra que é possível e que essa gama de assuntos transcorre ligada numa “crua leveza” exposta ao longo dos seus 102 minutos.

Dar uma nova roupagem ao estilo que consagrou Cidade de Deus de Fernando Meirelles parecia impossível, pois não havia roteiro para uma nova empreitada. Foi então que Lúcia Murat, diretora e ex-militante política, resolveu transformar em ficção toda a experiência real sofrida por ela nos tempos da ditadura e acrescentar o caos da formação de gangues nos morros e favelas do Rio de Janeiro. Com isso equiparado a Cidade de Deus surge o não menos que surpreendente Quase Dois Irmãos.

Acompanhamos através da narração em off do personagem Miguel e através de seqüências não lineares a origem de seu personagem e de seu amigo de infância Jorginho. O filme tem início nos dias atuais quando Miguel, agora deputado e pai de família, resolve visitar Jorginho, um grande traficante de drogas, na prisão e lhe oferecer participação em um projeto social.

Depois da seqüência inicial passamos a acompanhar através das seqüências não lineares os anos 50 quando Miguel e Jorginho se conhecem ainda crianças devido à amizade dos pais e depois nos anos 70 quando Miguel é preso por ser militante político e Jorginho é apenas um preso comum colocado junto com os presos políticos. E por fim como descrito acima o tempo atual, onde Jorginho torna-se líder de quadrinha e Miguel um deputado e pai de família preocupado.

O filme explora muito bem os dois lados. Não tendo heróis ou vilões bem definidos entre os seus dois personagens principais. Passamos em certa hora a enxergar Miguel como um personagem centrado e correto até que, em determinada ocasião o mesmo trai os seus próprios ideais e os ideais de um dos seus "parceiros" dentro da prisão dividindo opiniões e gerando uma briga que irá mudar o seu destino e o de Jorginho. Em outra ocasião o já líder de quadrilha, Jorginho, fala para Miguel sobre um dos seus comandados quase que como um pai, mostrando total confiança no seu "soldado".

A incerteza dos caminhos que serão seguidos por seus personagens é sempre uma constante. Mostrando que o pano de fundo é bem estabelecido, sabemos o que acontecerá com a política e com a criminalidade mas fica difícil de saber o que será de Miguel e Jorginho ao fim de tudo.

Um filme arrebatador, de encher os olhos e de uma tristeza real, onde fica difícil separar o que é ficção e o que é realidade na situação em que se encontra o país hoje em dia, na tela e fora dela.

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