quinta-feira, 10 de março de 2011

O Carteiro e o Poeta


A obra audiovisual “O Carteiro e o Poeta” é um romance italiano, no qual retrata o desenrolar de uma amizade entre Pablo Neruda, exilado por motivos políticos em uma ilha na Itália, e um carteiro de origem humilde, responsável pela entrega das correspondências destinadas ao poeta chileno.

No decorrer dos fatos demonstrados na película, percebe-se como pano de fundo uma sociedade atravessando um problemático período pós Segunda Guerra Mundial. No entanto, isso não impede que o filme esbanje uma atmosfera sublime, com uma beleza poética ímpar, no qual o personagem do carteiro absorve ensinamentos do grande Neruda, tendo este despertado um espírito pesquisador e crítico no referido mensageiro, da mesma maneira que lhe ensinou a enxergar as sutilezas maravilhosas da natureza através de metáforas.

Um longa metragem com sabor de drama, porém, sem se tornar piegas, deixando um gostinho especial de quero mais, tocando profundamente e de maneira singela a todos que tiverem uma alma sedenta de poesia.

O Cineclube Mossoró, em sua Sessão Especial, exibirá “O CARTEIRO E O POETA”, dia 14/03(segunda-feira), comemorando o Dia da Poesia. ENTRADA FRANCA. A abertura do evento será a partir das 17:00hr, no Auditório da Estação das Artes. A exibição da película será às 18:00hr, e após, ocorrerá o debate. Ao final, sorteio de livros, gentilmente doados para a ocasião. Confirmada a presença de figuras ilustres da nossa cidade.

Título Original: il Postino

Lançamento: 1994 (Itália)

Direção: Michael Radford

Atores: Massimo Troisi, Philippe Noiret, Maria Grazia Cucinotta, Renato Scarpa

Duração: 109 min

Gênero: Romance

Censura: Livre


PREMIAÇÕES:

Oscar 1996 (EUA)

Venceu na categoria de Melhor Trilha Sonora Original, composta por Luis Enríquez Bacalov.
O filme também foi indicado para os prêmios de Melhor Ator (Massimo Troisi), Melhor Diretor, Melhor Filme e Melhor Roteiro Adaptado.

BAFTA 1996 (Reino Unido)

Venceu na categoria de Melhor Filme em Língua Não Inglesa.

domingo, 27 de setembro de 2009

Classificação:




"Toda unanimidade é burra”, dizia o Nelson. Não deixa de ser uma grande verdade. A originalidade está cada vez mais rara. E nem é preciso entrar no campo da inovação para se obter dados ainda mais negativos. Mas se estivermos falando de algo original e inovador? E que marcou época, exatos 63 anos atrás.
O Cineclube Mossoró apresenta um clássico atemporal. Um daqueles filmes que são irretocáveis. Perfeitos como uma obra-prima necessita ser. Feito em 1946, A FELICIDADE NÃO SE COMPRA foi dirigido por um dos maiores diretores que o mundo já conheceu. Frank Capra.
O filme nos fala de George Bailey, um homem comum, que sonha, tem família e trabalha como qualquer homem honesto. É véspera do Natal e George encontra-se desiludido, ele perdeu sua fé. Então caminha a passos rápidos para seu suicídio.
Clarence é um quase-anjo, falta-lhe o principal, as asas, e há 220 anos. Deus entrega a Clarence uma missão, convencer George a não causar a própria morte. Então, valendo-se de toda vontade de se tornar um anjo de primeira classe, Clarence se desloca até a Terra para impedir George. Clarence dá uma grande oportunidade a George, mostra para ele como seria a vida em Bedford Falls caso ele não existisse. O que seria do seu irmão mais novo? Da empresa do seu pai? Da sua mulher? E o que seria da sua própria cidade e seus habitantes?
Uma história que mostra que existem pessoas altamente gananciosas, capazes de destruir e tirar do seu caminho qualquer empecilho para se tornarem ainda mais ricas. Mas também fala de como ter força e acreditar em algo, ou alguém, pode nos fortalecer ao ponto de nos mostrar os caminhos certos. Que uma vida simples pode ser bem mais interessante que uma vida cheia de regalias. Uma obra que nos mostra pessoas de fé, dedicadas e que tem no amor, uma possibilidade de recomeçar uma vida.
(Jônatas Andrade)

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

TROPA DE ELITE

Classificação:


“Para que trocar tiro com a polícia se da para negociar?”

Em Ônibus 174, de José Padilha, acompanhamos a trajetória do seqüestro do ônibus de mesmo nome pelo civil Sandro Nascimento. Sandro conseguiu transformar o seqüestro num caso, de certa forma, histórico dentro do país. A atuação da polícia foi precária, a negociação foi difícil e o saldo disso foi uma refém sendo morta com um tiro na cabeça e dois nas costas dados por Sandro. O tiro dado na cabeça foi feito por um oficial da polícia a menos de um metro de distância. Um tiro que era para ter sido disparado em Sandro Nascimento, de 21 anos. O despreparo da polícia fica evidente no documentário de 2002 que relata os fatos ocorridos em 2000, no Rio de Janeiro.

Nascimento, só que agora o capitão, não admite que um agente/policial do BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais) seja ou esteja despreparado. O BOPE não quer e nem permite pessoas “fracas” ou com tendências a corrupção agindo em nome deles. O capitão Nascimento (Wagner Moura) decide se afastar do BOPE para se dedicar a esposa. E também ao filho que está para nascer. Por isso, ele que sempre agiu de acordo e com uma serenidade ocultada pela frieza exagerada, precisa de um substituto a sua altura. Que no linguajar deles, “dê conta do recado”.

Nesse meio tempo passamos a acompanhar a trajetória de dois amigos. André e Neto. Neto (Caio Junqueira) tem idéias mais radicais, age por instinto e sonha alto. Anseia por operações dentro da favela, operações especiais. Já André Matias (André Ramiro) entrou para a polícia mais como uma espécie de “apoio” para sua especialização em direito criminal, usa a polícia como âncora para melhorar seu aprendizado em direito.

Mas, nem André e nem Neto conseguem - inicialmente - operar dentro do posto idealizado por ambos. São colocados em “ponto-morto”. Suas expectativas vão sendo deixadas de lado até que, eles passam a compreender como as coisas funcionam lá dentro. Neto começa a sair acompanhando algumas batidas e apreensões e percebe que os policiais falam de propina e “ganhar por fora” com a maior naturalidade possível. A cena em que um policial se irrita com um vendedor porque ele anda aceitando o serviço de outro PM deixa isso bem claro. O vendedor tem a opção de escolher qual PM quer para defender o seu negócio apenas “abrindo a carteira”.

André faz algumas amizades na universidade e quando começa a sair com novos amigos percebe que eles andam no morro e usam drogas como se fosse algo normal. Eles possuem livre acesso a uma facção, a facção da ONG. A facção defende-a provavelmente com parte do dinheiro cedido a ONG pelo estado, algo que o filme não trata, mas, subtendendo-se fica até mais interessante. André não toma as atitudes necessárias de um policial (honesto) e acaba se envolvendo cada vez mais com a situação.

Enquanto isso, o BOPE prepara a segurança do papa João Paulo II que está vindo para o Rio de Janeiro. E o capitão Nascimento prepara a escolha do seu substituto e vai vivendo como pode até a chegada do filho. Mas, uma operação é iniciada pelos próprios policiais, eliminar o Capitão Fábio. Eles acreditam que Fábio interceptou o dinheiro de uma propina que não era para ele. Quando foi Neto que se juntou a André para usar o dinheiro a fim de comprar peças para os automóveis da oficina do quartel. André e Neto ficam sabendo do futuro assassinato do Capitão Fábio e resolvem tentar impedir a operação. Então, devido a alguns problemas tem início um tiroteio entre PMs e traficantes diante de um baile funk. Ao fim da operação, o capitão Nascimento rapidamente conhece Neto e André. E a ordem de substituição de Nascimento finalmente é dada. É hora de começarem os treinamentos.

A seqüência do treinamento é o único alívio cômico do filme, e não é um humor barato. É um humor negro, duro e triste. Enquanto acompanhamos Neto e André treinando vemos a tentativa dos oficiais do BOPE em fazer o capitão Fábio desistir quando descobrem que o mesmo é corrupto. A operação do segundo ato do filme, de salvar Fábio, praticamente não valeu para nada. Cheguei a lembrar do clássico “Nascido Para Matar” (Stanley Kubrick), mas especificamente, por causa do treinamento.

Wagner Moura ainda insiste em participar de novelas. Ele prova mais uma vez que é ator de cinema. Nem que ele apareça todo dia na novela ele consegue se destacar mais do que em menos de duas horas de projeção cinematográfica. Wagner adere ao cinema de vez, por sacrilégio. Seja uma pequena participação em “A Máquina”, seja dividindo a tela com Lázaro Ramos em “Cidade Baixa” ou enchendo-a em “Tropa de Elite”, Wagner prova que não é só um ótimo ator. É um ator constante, que escolhe bem cada papel e dá uma variação de interpretação para cada um deles.

Fala-se muito da violência do filme. Não o achei violento. Quem diz isso será que já viu algum filme do diretor francês Alexandre Aja? E Kill Bill é o que? Comédia? É um filme forte, não violento. A pior violência é aquela que não é mostrada, essa sim. Exemplo disso é a cena em que policiais “rodam” de um lado para outro com corpos mortos jogando-os em outro lugar como se fossem sacos de lixo. Quer uma violência pior do que essa? O resto das cenas mais pesadas do filme são conseqüências do roteiro. O espectador que presta atenção sabe que a tendência do filme é que a tensão aumente. Ao mesmo tempo, classificaram o filme como ação. Não é um filme de ação. No máximo um drama policial. Melhor ainda que não seja ação, pois, angariar recursos para um filme de ação faria com que Tropa de Elite deixasse de focar em seus personagens para dar vez a explosões pirotécnicas, perseguições alucinantes e ação massiva intercalada por um ou outro diálogo. Aí sim poderiam até dizer que seria um filme de ação hollywoodiano.

Há alguma semelhança entre Sandro Nascimento (Ônibus 174) e o capitão Nascimento de Tropa de Elite? Mesmo os dois estando em lados opostos da lei? Sim. Acredito que mesmo estando cada um em um lado oposto, em certa hora, para quem viu ambos os longas, é possível perceber que os dois desejam sair do mundo que habitam. Que ambos não são felizes no que estão fazendo, mas, que agora arcam com o peso da “obrigação” por questão de sobrevivência.

Se em “Cidade de Deus” vimos o lado dos bandidos, em Tropa de Elite vemos o outro lado. A única semelhança entre os dois longas é a equipe de produção. Com Daniel Rezende na edição e Bráulio Mantovani no roteiro. O filme é baseado no livro “Elite da Tropa”, do ex-capitão do BOPE Rodrigo Pimentel (que escreveu o roteiro de Ônibus 174) e do sociólogo Luis Eduardo Soares.

Não é o melhor que nosso cinema pode oferecer, não é o melhor longa do cinema nacional. Mas continuando à passos largos assim, José Padilha está caminhando para nos oferecer boas surpresas pela frente. Para encerrar, uma última passagem do filme, dita pela personagem de Wagner Moura.
“A verdade é que a paz no Rio depende de um equilíbrio delicado, entre a munição dos bandidos e a corrupção dos policiais”.

terça-feira, 12 de junho de 2007

QUASE DOIS IRMÃOS


Classificação:

“E a vida nos mostrou outros caminhos... e a dor”.

Boêmia, ditadura, rebeldia, separação de classes, ideologias diferentes... Aparentemente não há como juntar tudo isso em um só filme. Mas Quase Dois Irmãos nos dá uma amostra que é possível e que essa gama de assuntos transcorre ligada numa “crua leveza” exposta ao longo dos seus 102 minutos.

Dar uma nova roupagem ao estilo que consagrou Cidade de Deus de Fernando Meirelles parecia impossível, pois não havia roteiro para uma nova empreitada. Foi então que Lúcia Murat, diretora e ex-militante política, resolveu transformar em ficção toda a experiência real sofrida por ela nos tempos da ditadura e acrescentar o caos da formação de gangues nos morros e favelas do Rio de Janeiro. Com isso equiparado a Cidade de Deus surge o não menos que surpreendente Quase Dois Irmãos.

Acompanhamos através da narração em off do personagem Miguel e através de seqüências não lineares a origem de seu personagem e de seu amigo de infância Jorginho. O filme tem início nos dias atuais quando Miguel, agora deputado e pai de família, resolve visitar Jorginho, um grande traficante de drogas, na prisão e lhe oferecer participação em um projeto social.

Depois da seqüência inicial passamos a acompanhar através das seqüências não lineares os anos 50 quando Miguel e Jorginho se conhecem ainda crianças devido à amizade dos pais e depois nos anos 70 quando Miguel é preso por ser militante político e Jorginho é apenas um preso comum colocado junto com os presos políticos. E por fim como descrito acima o tempo atual, onde Jorginho torna-se líder de quadrinha e Miguel um deputado e pai de família preocupado.

O filme explora muito bem os dois lados. Não tendo heróis ou vilões bem definidos entre os seus dois personagens principais. Passamos em certa hora a enxergar Miguel como um personagem centrado e correto até que, em determinada ocasião o mesmo trai os seus próprios ideais e os ideais de um dos seus "parceiros" dentro da prisão dividindo opiniões e gerando uma briga que irá mudar o seu destino e o de Jorginho. Em outra ocasião o já líder de quadrilha, Jorginho, fala para Miguel sobre um dos seus comandados quase que como um pai, mostrando total confiança no seu "soldado".

A incerteza dos caminhos que serão seguidos por seus personagens é sempre uma constante. Mostrando que o pano de fundo é bem estabelecido, sabemos o que acontecerá com a política e com a criminalidade mas fica difícil de saber o que será de Miguel e Jorginho ao fim de tudo.

Um filme arrebatador, de encher os olhos e de uma tristeza real, onde fica difícil separar o que é ficção e o que é realidade na situação em que se encontra o país hoje em dia, na tela e fora dela.

sábado, 21 de abril de 2007

TAPETE VERMELHO


Classificação:

Fiquei indiferente pelo ritmo não muito contagioso dos primeiros 25 minutos de filme. Sensação estranha, quase uma previsão de como não conseguiria chegar até o fim. Graças aos céus, ou melhor, a Amácio Mazzaropi, me enganei.

Tapete Vermelho dirigido e com participação no roteiro de Luiz Alberto Pereira é um filme que presta uma homenagem ao grande Mazzaropi mas também ao homem do campo. Trabalha excepcionalmente bem com o preconceito enfrentado pelo homem vindo da roça quando este vem a cidade grande. Mas mostra como a simplicidade é capaz de superar as barreiras impostas pelas situações que se apresentam ou pela sociedade.

Tapete Vermelho possui uma trinca de personagens comuns. Vindos de um povoado simples, mas que possuem um objetivo não tão comum. É fácil de se cumprir quando eles colocam em questão o que devem fazer, mas, na prática e com o mundo consumidor em que vivem atrapalhando esse simples objetivo não será fácil de ser alcançado. O aniversário de 10 anos do menino Neco (Vinícius Miranda) se aproxima e tudo que seu pai Quinzinho (Matheus Nachtergaele) quer é que ele veja um filme do saudoso Mazzaropi. Sua viagem será longa, algumas vezes bizarra e muito inocente.

A relação entre mãe, pai e filho é muito bem construída e apesar dos lentos 25 minutos inicias esses mesmos servem justamente para se perceber esse grau de proximidade entre eles e a inocência dos mesmos. O filho em especial nunca viu nada de Mazzaropi, mas pela boca do pai já ouviu tudo que precisou para se apaixonar pelo saudoso Amácio.

Talvez a única relação que o título do filme tenha a ver com a história é a similaridade entre o tapete vermelho e a estrada de tijolos amarelos percorrida pelos aventureiros do Mágico de Oz. Uma boa sacada já que é possível durante a projeção ver o aparecimento de alguns "seres" estranhos. Uns bons, outros nem tanto ou quase nada.

Zulmira (Gorete Milagres) não põe fé no marido e deixa claro que esse tipo de aventura já não é novidade e fica clara sua intenção de separação desde cedo. Mesmo a contragosto ela segue viagem. E assim os três deixam Formoso e seguem em direção a cidade grande.

O filme realmente só começa quando eles saem de Formoso. Os mais variados tipos passam a surgir e o filme ganha um certo tom de fantasia que é muito bem aceito graças à naturalidade na atuação do elenco. E o espectador acaba se acostumando com o que vai vendo e acaba ficando curioso com a próxima "aberração" ou situação que nossos "heróis" enfrentarão. É nessa hora que é fácil perceber a semelhança com Oz. O próprio alcance do objetivo acaba se tornando quase um Santo Graal e os personagens aos poucos perdem a "força" e a recuperam. O filme se enriquece muito com essa adição de fantasia ao enredo que não é nem um pouco leve.

Entre algumas das personagens secundárias vale destacar o Mané Charreteiro (Aílton Graça) e o dono do cinema (Cacá Rosset). Cacá interpreta um dono de cinema totalmente desprendido de algum valor moral, aproveitador ao máximo. Tudo que ele busca é status e fama, se aproveitando da situação alheia. É junto com esse personagem que é adicionado um humor negro a película. Já Aílton Graça teve mais sorte já que sua personagem tem certa importância na trama e não aparece apenas uma vez como alguns outros. Sua personagem além de idealista possui liderança e sonha com o futuro bom para os seus. Representa quase que um mártir já que algumas personagens são meio idealizadas então o Mané Charreteiro seria um Maomé guiando seu povo.

Talvez a riqueza do roteiro e a quantidade de situações enfrentadas dificultem um pouco a finalização de alguns plots. Mas ao todo Tapete Vermelho é um filme que merece ser visto. Um belo e ao mesmo tempo triste road movie. É o cinema de raiz cada vez mais se manifestando.


Obs: antes de terminar a avaliação observei que o filme anteriormente criticado (O céu de Suely) falava na volta para a cidade natal para concretizar um futuro objetivo enquanto que Tapete Vermelho fala de uma futura concretização de objetivo que deve ser alcançada fora da cidade natal.

quinta-feira, 8 de março de 2007

O CÉU DE SUELY


Classificação:



Cada vez mais o problema da falta de bons colaboradores (leia-se patrocinadores) vem instigando nossos cineastas. Falta-se dinheiro sobra roteiro. Se essa falta de dinheiro continuar e melhores roteiros e diretores surgirem então que falte dinheiro para o cinema nacional, pois produtores picaretas não faltam aqui querendo gastar dinheiro em produções ruins.

Para Karim Aïnouz, diretor de O Céu de Suely, dinheiro e grandes nomes de peso em um filme nunca pareceram problemas para esse exemplar cineasta. Com Madame Satã ele apenas despontou para uma carreira gloriosa, mas o que pouca gente sabe é que Karim é formado em cinema na Universidade de Nova York e já trabalhou como montador de alguns filmes americanos por sinal. Para ele não é terreno estranho apesar de estar apenas em seu segundo longa.

O Céu de Suely conta a trajetória simples (palavra chave no roteiro para mim) de Hermila. Moça que muito nova fugiu de casa com o namorado para morar em cidade grande. Ainda nova, com apenas 21 anos ela retorna para a casa da sua avó agora com um filho. Sua vontade é agora constituir família na cidade de Iguatu. O namorado ficou na cidade grande para terminar alguns negócios para depois voltar a Iguatu. Fica claro assim que Hermila chega que, provavelmente não verá mais o namorado. O diretor soube amarrar as pontas sem dar a personagem uma falsa esperança e esticar ainda mais o drama da moça.

A cidade isolada descrita pelo próprio diretor como uma cidade-passagem é um exemplo de interior onde ou se saí rápido de lá ou se fica para sempre. Com a fotografia beirando a perfeição é fácil perceber que Iguatu contrasta muito bem com Hermila. Isolada, triste algumas vezes e com um horizonte que deixa incerto o caminho a se seguir. Chega uma hora em que não se consegue diferenciar Hermila e Iguatu. Sem perder muito tempo o diretor logo nos mostra para onde o filme irá caminhar. Com apenas 88 minutos o filme corre, mas sem se perder e consegue mostrar a trajetória de Hermila em seus altos e baixos.

Vale destacar também que o trabalho realizado em cima dos atores foi algo fora do comum. A preparação, o ensaio, a programação e a improvisação foram algo de extrema competência. Só para citar um exemplo o diretor chegou a forçar uma cena que não existia no roteiro apenas para aproveitar o choro da atriz principal ao fim de uma cena. Se há luz e câmera por que não filmar deve ter pensado Karim.

Agora falarei sobre o fator talvez mais importante do filme em si. Sua simplicidade. O roteiro, a atuação, a simbologia e a direção foram coisas tão simples que caso acontecesse um deslize o filme teria sido afetado. Justamente por trabalhar em cima de extremos o diretor tenha conseguido arrancar tudo que ele queria. Leve e ao mesmo tempo denso. Livre e também preso. O filme poderia "quebrar" se não fosse a excelente mão de Karim podando aqui e ali detalhes que acrescidos ao trabalho do resto da equipe tornaram esse filme digno de todos os elogios.

Voltando a história por que O Céu de Suely? Desacreditada da vida, com um filho para criar e junto com a quase certeza de permanência em Iguatu Hermila se inquieta com a situação e passa a andar com uma garota de programa chamada Georgina. É então que, partindo de Hermila surge uma louca solução para se ganhar dinheiro. Ela decide se vender, não como uma prostituta como ela mesma frisa. Ela vai se rifar, assim apenas dormirá com um homem em vez de vários. Não se tornando assim uma prostituta. Vale realçar um fato simples mais uma vez que talvez dê mais brilho ainda ao roteiro. O diretor poderia muito bem ter se rendido aos clichês e ter transformado Georgina na ponte que levaria Hermila a prostituição, mas fica claro que é Hermila que escolhe passar por tudo sem influência de terceiros.

Se depois de tudo isso por quais razões o filme não levaria as cinco estrelas? Por duas razões. A primeira é que a personagem da sogra de Hermila em nada acrescenta ao roteiro então não tê-la no filme seria até melhor, foi algo até inesperado ver essa personagem Não vi na mesma personagem o que ela poderia prestar ao filme ou vice-versa. E em segundo lugar apesar de não ter nada contra, até porque respeito o diretor e confio no que ele faz, o filme conta com uma cena de sexo que talvez tenha sido mal aproveitada, ou melhor, um pouco longa demais. O pior é que a cena não poderia ser retirada porque chega a ser até um clímax do filme depois de tudo o que é apresentado antes. Mas, acredito que de alguma forma ou a cena poderia ter sido encurtada ou mascarada de alguma outra forma. Existiam meios de tornar aquela cena menos densa do que ela já vinha prometendo ser.

Um bom roteiro nunca perderá espaço para milhões e milhões. Dinheiro pode até gerar lucro e sucesso, mas com certeza esse blockbuster não entrará para história e anos depois o filme com um bom roteiro vai ser lembrado.