sábado, 21 de abril de 2007

TAPETE VERMELHO


Classificação:

Fiquei indiferente pelo ritmo não muito contagioso dos primeiros 25 minutos de filme. Sensação estranha, quase uma previsão de como não conseguiria chegar até o fim. Graças aos céus, ou melhor, a Amácio Mazzaropi, me enganei.

Tapete Vermelho dirigido e com participação no roteiro de Luiz Alberto Pereira é um filme que presta uma homenagem ao grande Mazzaropi mas também ao homem do campo. Trabalha excepcionalmente bem com o preconceito enfrentado pelo homem vindo da roça quando este vem a cidade grande. Mas mostra como a simplicidade é capaz de superar as barreiras impostas pelas situações que se apresentam ou pela sociedade.

Tapete Vermelho possui uma trinca de personagens comuns. Vindos de um povoado simples, mas que possuem um objetivo não tão comum. É fácil de se cumprir quando eles colocam em questão o que devem fazer, mas, na prática e com o mundo consumidor em que vivem atrapalhando esse simples objetivo não será fácil de ser alcançado. O aniversário de 10 anos do menino Neco (Vinícius Miranda) se aproxima e tudo que seu pai Quinzinho (Matheus Nachtergaele) quer é que ele veja um filme do saudoso Mazzaropi. Sua viagem será longa, algumas vezes bizarra e muito inocente.

A relação entre mãe, pai e filho é muito bem construída e apesar dos lentos 25 minutos inicias esses mesmos servem justamente para se perceber esse grau de proximidade entre eles e a inocência dos mesmos. O filho em especial nunca viu nada de Mazzaropi, mas pela boca do pai já ouviu tudo que precisou para se apaixonar pelo saudoso Amácio.

Talvez a única relação que o título do filme tenha a ver com a história é a similaridade entre o tapete vermelho e a estrada de tijolos amarelos percorrida pelos aventureiros do Mágico de Oz. Uma boa sacada já que é possível durante a projeção ver o aparecimento de alguns "seres" estranhos. Uns bons, outros nem tanto ou quase nada.

Zulmira (Gorete Milagres) não põe fé no marido e deixa claro que esse tipo de aventura já não é novidade e fica clara sua intenção de separação desde cedo. Mesmo a contragosto ela segue viagem. E assim os três deixam Formoso e seguem em direção a cidade grande.

O filme realmente só começa quando eles saem de Formoso. Os mais variados tipos passam a surgir e o filme ganha um certo tom de fantasia que é muito bem aceito graças à naturalidade na atuação do elenco. E o espectador acaba se acostumando com o que vai vendo e acaba ficando curioso com a próxima "aberração" ou situação que nossos "heróis" enfrentarão. É nessa hora que é fácil perceber a semelhança com Oz. O próprio alcance do objetivo acaba se tornando quase um Santo Graal e os personagens aos poucos perdem a "força" e a recuperam. O filme se enriquece muito com essa adição de fantasia ao enredo que não é nem um pouco leve.

Entre algumas das personagens secundárias vale destacar o Mané Charreteiro (Aílton Graça) e o dono do cinema (Cacá Rosset). Cacá interpreta um dono de cinema totalmente desprendido de algum valor moral, aproveitador ao máximo. Tudo que ele busca é status e fama, se aproveitando da situação alheia. É junto com esse personagem que é adicionado um humor negro a película. Já Aílton Graça teve mais sorte já que sua personagem tem certa importância na trama e não aparece apenas uma vez como alguns outros. Sua personagem além de idealista possui liderança e sonha com o futuro bom para os seus. Representa quase que um mártir já que algumas personagens são meio idealizadas então o Mané Charreteiro seria um Maomé guiando seu povo.

Talvez a riqueza do roteiro e a quantidade de situações enfrentadas dificultem um pouco a finalização de alguns plots. Mas ao todo Tapete Vermelho é um filme que merece ser visto. Um belo e ao mesmo tempo triste road movie. É o cinema de raiz cada vez mais se manifestando.


Obs: antes de terminar a avaliação observei que o filme anteriormente criticado (O céu de Suely) falava na volta para a cidade natal para concretizar um futuro objetivo enquanto que Tapete Vermelho fala de uma futura concretização de objetivo que deve ser alcançada fora da cidade natal.

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